sexta-feira, 3 de junho de 2011

É preciso viver para aprender.


Meu professor de geografia, desde pequeno foi criado em meio à classe média, tendo acesso a colégio particular e a bens materiais que desejava. Mas após seus 25 anos e a venda da empresa que seu pai possuía, ele resolveu iniciar seus estudos para ser professor e assim o fez. Após ter se formado, viu que trabalhar em apenas um colégio não era suficiente para se manter e manter sua família, e então foi trabalhar em mais dois ou três colégios, tanto particulares quanto públicos.

Ele contou um pouco sobre um desses colégios, um que fica em Nova Iguaçu, e os alunos são pobres ao ponto de irem à escola apenas para almoçar, sabendo que aquela poderia ser a ÚNICA refeição do dia.

Brevemente ele nos perguntou, o que desejaríamos se tivéssemos uma lâmpada mágica com apenas UM desejo. Sem exceções, todos os alunos pediram dinheiro, direta ou indiretamente. E então o professor perguntou se nós, sabendo que os alunos dessa tal escola eram pobres, saberíamos o que ele pediriam. Mas uma vez todos disseram dinheiro... Erradamente. Meu professor afirmou com toda convicção de que eles pediriam coisas que fazemos por diversão, quase diariamente. Como andar de carro, ir ao shopping, conhecer o centro de nova Iguaçu e até ter contato com um computador. Mesmo morando em nova Iguaçu, muitas crianças e jovens não conhecem o centro, não saem e nem tem contato com o mundo externo, apenas com a miséria.

Ele falou também sobre um aluno em especial, este que se chamava Alex (nome fantasia). Alex era um menino que estudava nessa escola onde meu professor dá aula e ele costumava ser dócil e prestativo, mas demonstrava um jeito meio afeminado. Esse aluno sempre procurava ajudar os professores com a mochila, livros e etc, o que fazia com que os professores ficassem de certa forma, encantados com a educação que ele tinha, mesmo sendo extremamente pobre.

Um certo dia, o professor chegou na escola e a diretora veio até ele, perguntando se ele sabia da história do Alex. O professor, sabendo das condições precárias de alguns alunos, procurava não perguntar nada para não causar constrangimento e coisas assim, e disse que não sabia de nada sobre o tal Alex. E foi aí que a diretora começou a contar sobre esse menino fazendo a primeira revelação sobre o mesmo, dizendo que ele era 'Soropositivo', ou seja, que ele era portador do HIV, e que ele o havia contraído do padrasto que costumava violentá-lo há anos, mas que agora o tal marginal estava na fase terminal da AIDS. E por este motivo, Alex não passava de ano: ia para a escola tenso, pois ficava pensando o que o esperava quando chegasse em casa. O professor nos disse que no mesmo instante que ouviu aquilo, sentiu o coração apertar e também uma vontade enorme de se vingar do padrasto da criança, que mesmo tendo 15 anos, era ainda considerado criança por não ser tão maduro. E agora, já um pouco mais velho, convive com o fato de ter tido a vida estragada por um animal, porque não podemos classificar o padrasto dele como um ser racional.

O professor disse pra gente que esse contato com essas pessoas de baixa renda e que sofrem coisas que nós não imaginamos que possam sofrer, causou um impacto enorme na realidade dele, fazendo com que ele crescesse interiormente, vendo que a vida dele não é tão ruim, quando comparada à dessas crianças e jovens.

Resolvi escrever sobre isso que ouvi hoje, porque foi uma história que me tocou muito, me deixando até emocionada e eu acho que serve para mostrar para todos nós que a nossa vida é boa. Muitos xingam aos quatro ventos quando não podem fazer algo que querem, mas veja bem, existem pessoas que não tem nem direito de escolher o que querem nem o que gostam. Enquanto nós temos nossa cama, celular, computador, escola boa e nossos pais querendo investir no nosso futuro... Eles não tem nem comida direito, mas seguem a vida sem perder a dignidade e nem a esperança, querendo apenas ter um futuro melhor.

Reflitam, faz bem.

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